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Cibernética e segurança no espaço público

Atualizado: 26 de ago. de 2022

Por Thiago Augusto Ferreira da Costa.


A cibernética é o estudo dos processos de controle e comunicação, ou seja, não de coisas, mas de comportamentos que levam a um objetivo ou a uma função de qualquer natureza. Portanto, relações físicas e espaciais, teorias sociais e ciências da computação, são apenas algumas de muitas áreas nas quais a cibernética está presente.


Para Kim (2004), a influência da cibernética ocorre também na própria noção de sociedade, vista como um sistema de comunicação binária, exemplar ao nosso SIM ou NÃO a quaisquer questionamentos. “A cibernética e os computadores apareceram dando-nos o conhecimento das operações binárias, que já tinham sido (por nós) postas em prática” (Lévi-Strauss, 2000, pp. 36-37).


Embora a cibernética não tenha se consolidado no plano conceitual, influenciou de forma decisiva a Modernidade com resíduos que ainda são aproveitados na tecnologia e na ciência, a chamada “cibercultura” (Kim, 2004). Essas noções residuais que foram para o discurso técnico-científico, em senso comum, nos fazem pensar em um mundo sem fronteiras entre orgânico, máquina e filosofia.


O que se tem chamado “cibercultura”, hoje, é uma resposta da sociedade para a criação de uma “nova ordem da realidade”, frente aos novos contextos que desafiam categorias tradicionais de interpretação. Assim, “nossas máquinas são perturbadoramente vivas e, nós mesmos, assustadoramente inertes” (Haraway, 2000, p. 46).


Crimes “cibernéticos” mostram que a “virtualidade” do ciberespaço não deixa de ter uma natureza “real”. Para Kim (2004), a mediação entre homem e máquina são os bits, sinais físicos que assumem apenas dois valores, convencionalmente “um” e “zero”. O bit é o átomo da eletrônica: tudo o que é armazenado e processado dentro dos computadores, vira contagem em bytes.


A imagem gerada pelo computador também não é apenas um dado. A manipulação numérica do “átomo” da imagem eletrônica é o pixel, um ilusionista que, por mais perfeito que seja no modelo de simulação, será sempre ambíguo: o mesmo poder de simular é o de falsificar diante de nossos olhos (Taussig, 1993). Assim, quanto mais humanizada e “amigável” a nossa relação com o ciberespaço, por meio de simulações da realidade, mais nos tornamos cibernéticos e vulneráveis ao que nos foi programado (algoritmo).


No campo da segurança pública, a sensação de insegurança, os discursos de ordem e as imagens de crimes nas redes sociais (sejam verdadeiras, exageradas ou totalmente falsas) podem reverberar em ações no espaço físico, principalmente de fechamento, monitoramento e expulsão de "indesejados". No entanto, também podem gerar aberturas e encontros de interesses, buscando uma defesa mútua. Assim, tais atitudes surtem efeitos, ora negativos, ora positivos, na conquista efetiva da segurança pública.


Referências:


HARAWAY, Donna. Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Antropologia do ciborgue. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. Pp. 37-129.


KIM, Joon Ho. “Cibernética, ciborgues e ciberespaço: Notas sobre as origens da cibernética e sua reinvenção cultural”. Horizontes Antropológicos, 10(21). Jun. 2004. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0104-71832004000100009>. Acesso em: 18 jul. 2022.


LÉVI-STRAUSS, Claude. Mito e significado. Lisboa: Edições 70, 2000.


TAUSSIG, Michael. Mimesis and alterity: particular history of senses. New York: Routledge, 1993.





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