Por Thiago Augusto Ferreira da Costa.
Segundo o Monitor da Violência, parceria entre G1, Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV-USP) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o número absoluto de mortes violentas na Bahia é o maior do Brasil em 2022. Foram 2.630 assassinatos nos primeiros seis meses deste ano.
Embora tais números venham caindo no Brasil e na Bahia, ano a ano, segundo o mesmo estudo, as estatísticas são preocupantes. Muito porque a Bahia não é o estado mais populoso (é o quarto) e ainda assim detém o maior número. Também porque essa conta não considera mortes em ações policias, igualmente violentas e alarmantes.
Especialistas do NEV-USP e do FBSP apontam que a queda nas mortes se deu por mudanças na dinâmica do mercado de drogas, maior controle dos governos sobre criminosos, apaziguamento de conflitos entre facções, políticas públicas (de segurança e sociais) mais eficientes, bem como por redução no número de jovens (principais vítimas) na população.
No entanto, quando questionada sobre o número, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), além de não fazer mea culpa, criticou a metodologia do estudo, dando a entender que os dados estariam insuflados, sendo que o Monitor da Violência se informa com as próprias secretarias estaduais.
Do ponto de vista político, não se percebeu mudança na mentalidade do Estado ao encarar a dureza dos números, cabendo à SSP-BA apenas enaltecer a queda de 10% com relação ao mesmo período do ano passado, como um “já fiz mais do que era preciso”.
O simples fato de não divulgar o número de mortes em ações policiais, assim como se faz em todo o Brasil, mostra o caráter histórico do Estado em tornar opaca a estatística da violência, pois enquanto quem estiver morrendo forem os mesmos, não haverá interesse na transparência.
Além disso, questionar todo estudo de fora dos órgãos de segurança, ao invés de prover colaboração, mostra que não se quer diálogo, seja o governo de orientação de esquerda, seja de direita. Afinal, o lobby da segurança pública do “deixa do jeito que tá” já se arrasta de antes da Constituição de 1988, sob forma autoritária.
Portanto, apenas a mudança de cultura organizacional das polícias poderia frear essa política sobre corpos que são mortos, sobretudo jovens negros e periféricos. Mas onde estão as iniciativas de prevenção ao homicídio, focadas em tirar a juventude da zona de risco, da pobreza e do desemprego?
É importante lembrar que o tráfico de drogas não desapareceu, mas está especializado, matando menos, porém dentro uma nova organização, visando lucro em menores embates e arrecadação menos violenta, como pela internet e por crimes digitais. Ademais, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022, assaltos a banco na Bahia igualmente são sustentados pelo tráfico, no chamado “novo cangaço”, que é bem mais lucrativo, estarrecedor, no entanto, menos mortífero. Será mesmo que o problema da violência está sendo resolvido?
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